16 de agosto de 2008

Juno

Acreditem em mim: Juno é, sim, um filme bacana! E seu maior mérito não se concentra apenas em sua trilha sonora, que vai de Stooges a Hole, passando por ícones do indie como Sonic Youth e Belle and Sebastian. Divertido, boas atuações, tiradinhas bem-humoradas, tudo isso com direito a uma lição de moral nada piegas, mas daquelas que você sai do cinema um pouco mais feliz. Por causa disso, não seria exagero afirmar que o filme do canadense Jason Reitman (Obrigado por fumar) é o Little Miss Sunshine do ano. Além de tudo, assim como o filme da excêntrica família da kombi amarela, Juno concorre ao Oscar de Melhor Filme com filmes de peso, como o badalado Desejo e Reparação, premiado com o Globo de Ouro de Melhor Filme, Sangue Negro, que traz Daniel Dey-Lewis como protagonista e Onde os fracos não têm vez, dirigido pelos já consagrados irmãos Cohen.
Eu confesso que o filme não despertou em mim interesse, mas, sim, uma certa preguiça e não tenho o menor problema em assumir que, além da trilha sonora, outros dois motivos contribuíram para que eu enfrentasse a pré-estréia em pleno carnaval: a foto da personagem principal com um telefone em formato de hambúrguer, meu sonho de infância era possuir um, e o cartaz do filme. Depois de assisti-lo, Juno me surpreendeu. E seu maior mérito não se concentra em sua trilha sonora ou no seu visual impecável, nas primeiras cenas é utilizada a técnica de (...). O grande trunfo de Juno é a originalidade e a leveza ao abordar um tema tão batido como a gravidez da adolescência e a imaturidade de uma jovem assumir o papel de mãe. E isso é conquistado por dois motivos: a forma pouco convencional e nada densa utilizada para abordar o tema e o humor satírico, tão presente nas obras de Reitman.
Juno (Ellen Page) é uma garota de 16 anos que foge aos padrões das adolescentes de sua idade. Não se encaixa em padrões como a garota nerd esquisita e nem às gostosonas líderes de torcida. É uma mistura dos estilos indie e grunge, sendo que esse último é representado pela camisa xadrez que a acompanha em quase todas as roupas. É uma menina espirituosa, é ela a dona das sacadinhas mais legais do filme, e dotada de grande personalidade. O filme tem início com Juno fazendo, pela terceira vez o teste de gravidez, e relembrando a sua primeira vez. Juno encara o fato de uma forma pouco convencional, com uma coragem invejável a qualquer garota que na sua idade descobrisse grávida de um cara que sequer era seu namorado. Não tinha maturidade para ter um filho. Fato. E ela estava certa disso. Para se desfazer da criança, Juno encontra uma solução bastante incomum: doar a criança a um casal que se dispusessem adotá-la. Sem rodeios, Juno explica a situação aos pai e á madrasta, com a qual tinha um certo distanciamento. E uma reação que poderia ser de desespero é vista pelos por eles de forma compreensiva.

É aí, que Juno conhece Vanessa, interpretada pela linda Jennifer Garner, e Mark (Jason Bateman), um casal rico e excêntrico - yuppies seria a caracterização correta – disposto a adotar a criança. Vanessa parece se sentir muito mais atraída pela idéia de ser mãe do que Mark. O homem, cujo sonho era se tornar um astro do rock, parece viver sufocado pelas imposições da mulher.
O filme não opta por uma discussão moralista de afirmar que é a escolha de Juno é certa ou errada e é aí que ele encontra sua originalidade. A chegada de uma criança, no caso, de Juno, faz com que transformações ocorram na vida dos envolvidos. Juno passa por um processo de amadurecimento, descobre-se apaixonada pelo pai de seu filho e se aproxima de sua madrasta, e o casal passa a questionar se estavam preparados para adotarem uma criança. Dessa forma, o nascimento pode ser encarado como uma metáfora de mudança e de aparecimento uma nova realidade. De fato, o nascimento de um bebê é prenúncio de coisas boas.